sexta-feira, 11 de março de 2011

Capítulo V

Eliza acordou quando uma fresta de luz tocou seu rosto, abriu os olhos e levantou-se preguiçosamente. Foi até o banheiro lavar o rosto e pentear o cabelo, amarrou-o em um rabo de cavalo alto.
Desceu as escadas ainda em seu pijama e foi até a cozinha. Encontrou tia Francis debruçada no balcão lendo uma revista de atualidades.
- Bom dia. – Francis disse, sem tirar os olhos do que lia.
- Bom dia. – Respondeu, sem entusiasmo algum.
- Nós vamos jantar fora esta noite.
- Por que?
- Por que eu quero lhe apresentar ao Jorge.
- Mas ele já me conhece! Quer dizer, ele mora aqui na frente, é lógico que já me conhece. – Eliza pronunciava as palavras como quem estivesse dizendo a coisa mais óbvia do mundo.
- Quero lhe apresentar formalmente. E vestida como uma dama.
- Formalmente? Então vocês... você e ele... estão... namorando?
- É, sim.
Eliza não pôde conter a risada e quase derramou no chão todo o leite que colocava na caneca.
- Meu Deus, quem poderia imaginar! – E acrescentou mentalmente “Nunca imaginaria que essa sem coração da tia Francis pudesse namorar alguém”.
Francis não respondeu, apenas abaixou os olhos e voltou a se concentrar na sua leitura.
Eliza colocou um pouco de café no leite, e em seguida açúcar e foi bebericando cuidadosamente para não queimar a língua enquanto caminhava até a porta da sala. Encontrou um bilhete sob a porta, e o pegou.
Nele estava escrito:
“Dez horas da manhã, mesmo lugar. Te vejo lá”.
Imediatamente reconhecera a caligrafia, e acabou se sentindo imensamente feliz pelo fato de que o veria hoje. Não sabia explicar qual era a ligação que tinha com ele, mas sabia que era forte. Olhou para o relógio e viu que já se aproximava das nove e meia, se apressou, terminou de tomar seu café e subiu para se vestir. Como se fosse novidade, vestiu jeans, camiseta, e sapatos.
Se esgueirou pela porta para não ter que dar satisfações a tia Francis, e caminhou até o prédio da prefeitura onde encontrou Franco sentado na escadaria, como no dia anterior, porém sem os cavalos.
- Oi. – Disse, tímida.
- Bom dia, vamos dar uma volta? – Ele respondeu sorrindo.
- A pé?
- Sim.
- Pra onde?
- Gosta de parques de diversão?

Caminharam até o parque da cidade. Ficava próximo ao rio e não era muito grande, nem muito lotado, mas também não era daqueles parques abandonados beirando a falência.
- Aonde quer ir primeiro? – Ele perguntou.
- Eu gosto da roda-gigante.
- Eu também.
Sentaram-se na cabine azul, que Eliza escolheu.
- O que mais te incomoda agora?
- Oi? – Eliza respondeu, sendo puxada de seus próprios pensamentos onde estava imersa.
- Hm, as dúvidas.
Franco esperou, e Eliza entendeu que ele queria que ela continuasse a falar.
- Sabe, eu mal conheci minha mãe, não sei quem é meu pai, minha tia não demonstra nenhum afeto por mim, eu não sei que vida eu quero pra mim e... É, é isso.
- Tem um garoto.
- Sempre tem, não é mesmo?
- Como ele era?
- Bom demais pra mim.
- E por que você acha isso?
- Acho que é bem óbvio. – Disse Eliza, se encolhendo, um pouco constrangida.
- Foi ele que fez você querer pular?
- Ele foi uma das razões, na verdade.
- Então porque você acha que ele é bom demais pra você se ele te fez sofrer tanto a ponto de querer desistir da vida?
Eliza foi pega de surpresa pela pergunta, e não conseguiu esconder isso. Não sabia como deveria responder e ficou em silêncio por um tempo. Franco percebeu o crescente desconforto causado pelo silêncio e resolveu mudar bruscamente de assunto.
- Você tem irmãos?
Eliza sentiu um alívio imediato pela mudança de assunto, e soltou o ar dos pulmões antes de responder.
- Não. Quer dizer, talvez eu tenha, mas não conheço.
- E sua tia, é casada?
- Não, mas hoje será o jantar de oficialização do namoro dela com o vizinho da frente da nossa casa. Quão estranho é isso?
- Nem um pouco.
- Muito!
- Tá, talvez um pouco, mas ela tem o direito de provar o amor, todo mundo tem. Não importa a idade.
- Você está muito filosófico hoje, hein? O que aconteceu?
Franco corou e hesitou um pouco para responder.
- Eu só estou querendo te mostrar um lado bom da vida, um lado onde mudanças realmente acontecem quando é dado uma segunda chance à ela.
- Nossa, Franco, falando assim eu até me apaixono por você. – Eliza soltou as palavras sem pensar e quando percebeu o que tinha dito, corou feito um tomate maduro, mesmo sabendo que havia dito demais, não podia prever a reação de Franco.
- Não diga isso nem de brincadeira, Eliza. Você não pode se apaixonar por mim. Não mesmo.
Eliza sentiu suas bochechas queimarem e como se constrangimento não fosse o bastante, agora se sentia profundamente ofendida.
- Por que? Você é bom demais pra mim também?
- Não, não é nada disso. Você... Você não pode. - Franco foi se desprendendo do cinto conforme a cabine ia se aproximando de volta ao chão. – Sabe de uma coisa? Acho melhor nosso passeio terminar por aqui, essa roda-gigante me deu náuseas e você realmente não vai querer ver a segunda parte do cachorro-quente que eu comi no café-da-manhã.
Sem que Eliza pudesse dizer mais alguma coisa, Franco pulou da cabine e se enfiou entre as pessoas que estavam no parque, se camuflando até sumir.
Eliza permaneceu em choque sem conseguir se mover por um bom tempo, enquanto a roda continuava girando, girando e girando.

3 comentários:

  1. Amor proibido. Nossa. Anyway, cenas dos próximos capítulos. Estou ansiosa.

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  2. COMO ASSIIIIIIIMMMM?
    poxa ele eh gay? .-.
    (ESPERANDO PELO CAPITULO 6!)

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  3. Fiquei curiosa, ai meu deus.

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